31 de agosto de 2010

Que sejam felizes

Na praça um casal namora, estão sentados no banco. Beijam-se, ora carinhosamente, ora com ardor. Param, o homem pega uma garrafa embrulhada em papel de jornal, serve uma dose no copo descartável e delicadamente o leva até à boca da mulher. Depois que ela bebe,  ele a beija e vira o que restou. Ela fala alguma coisa e os dois começam a rir. Quase não há dentes na boca de ambos. Estão sujos- sujíssimos-, cabelos desgrenhados, o homem com barba mal-cuidada, a mulher com pernas cabeludas, algumas feridas em braços e pernas.  Bebem mais um gole, o homem pega uns biscoitos na mochila rasgada e imunda, leva um à boca da amada, beija-a novamente, afaga seus cabelos duros de não ver água há tempos, depois ela se deita no colo dele, e fica ali deitada, ele acarinhando seu rosto com ternura. Passam-se alguns breves minutos quando dois guardas municipais se dirijem até eles e ordenam que se retirem da praça. Não esboçam qualquer reação, levantam-se, pegam seus maltrapilhos pertences e saem abraçados em direção à lugar nenhum. Que é seu lugar no mundo. São párias, bêbados, a escória da humanidade. Fico  olhando a cena e vejo que o amor é o único resquício de humanidade ali naquele vão momento. Foi o que lhes sobrou do mundo: o amor de um homem por uma mulher. Nada mais têm, a não ser a si mesmos. O quê, aparentemente, lhes basta. Que sejam felizes...



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